MBRTV - Museu Brasileiro de Rádio e Televisão

A história da TV Rio



Inicialmente concedido pelo governo federal à Rádio Mauá – emissora oficial do Ministério do Trabalho – o canal 13 do Rio de Janeiro acabou nas mãos dos sócios Paulo Machado de Carvalho e João Batista do Amaral, sendo que este último já era o único dono quando a estação emitiu seus primeiros sinais de teste, em 18/06/55. Sua torre de transmissão foi colocada na Serra da Carioca.

Na inauguração, em 17/07/55, o locutor Luiz Mendes leu em off um texto de Moacyr Arêas e anunciou o início do Congresso Eucarístico Internacional, no Aterro do Flamengo, de onde o apresentador Murillo Neri passaria a comandar a transmissão. A 1ª imagem foi a Cruz de Cristo, símbolo do evento religioso. David Cohen realizou o espetáculo noturno no estúdio, com Anilza Leoni, Sargentelli, Murilo Mello Filho e Léo Batista, entre outros. A TV Rio instalou-se na Avenida Atlântica 4.264, no posto 6 de Copacabana, onde antes funcionava o Cassino Atlântico. Por ter criado na população o hábito de ver televisão, foi carinhosamente apelidada de “A Carioquinha”. A TV Rio compôs seu elenco com artistas da Rádio Mayrink Veiga, em sua maioria. Aos domingos, as famosas lutas de boxe levaram a emissora ao 1° lugar na audiência em 1956, com o programa “TV Rio Ring”. Outro destaque na época era o “Teatro Moinho de Ouro”. No mesmo ano, vindo de uma agência publicitária, ingressou na emissora o jovem Walter Clark que, com suas idéias, em pouco tempo traria um novo conceito de programação à tv brasileira. Numa 2ª feira de 1957, estreou “Noite de Gala” – um programa revolucionário que mesclava música, humor e reportagem, tendo ainda tornado famoso o apresentador Flávio Cavalcanti. A novidade de 1958 ficou por conta de “Preto no Branco” (conhecido em São Paulo no ano seguinte como “Pingo nos ii”), no qual o convidado era entrevistado e ainda se submetia à berlinda pela cavernosa voz em off de Oswaldo Sargentelli. Sucesso na TV Paulista, a “Praça da Alegria” também passou a ser apresentada no Rio a partir de 1959, mesmo ano em que estreou outro recordista de audiência: o musical humorístico “Noites Cariocas”. Como integrante da cadeia das “Emissoras Unidas”, da qual também fazia parte a TV Record, em 1959 a TV Rio ligou-se por microondas com São Paulo – o que lhe permitia transmitir alguns programas e notícias ao vivo diretamente da capital paulista. Léo Batista e Heron Domingues comandaram o principal noticiário do canal 13: “Telejornal Pirelli”.

Em 1962 a emissora viveu o apogeu com sua faixa nobre: 2ª feira: “Noite de Gala”; 3ª – “Show Doçura – Moacyr Franco”; 4ª – “Discoteca do Chacrinha”; 5ª – “Boa Noite Brasil”; 6ª – “Noites Cariocas”; sábado – “O Riso é o Limite” e domingo – “Chico Anysio Show”. Outros cartazes se tornaram companhia constante dos telespectadores da TV Rio: Nelson Rodrigues, Cid Moreira, Hilton Gomes, Luis Jatobá, Leon Eliachar, Antônio Maria, Silveira Sampaio, Don Rossé Cavaca, Sérgio Porto, Jô Soares, João Loredo, Maysa, Darlene Glória, Carlos Imperial, Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Em 1963 a TV Excelsior ofereceu melhores salários para contratar grande parte dos músicos e humoristas da TV Rio, desfalcando o elenco da linha de shows da “carioquinha”.

Por isso, em 1964 a TV Rio passou a investir nas telenovelas, exibindo os capítulos em vídeo-teipe de “Renúncia”, da Record, e alcançando grande êxito com “O Direito de Nascer” – produção da TV Tupi paulista que a Tupi carioca rejeitou.

Em 1965, o canal 13 ainda conseguiu alguma repercussão com “Rio Hit Parade”, com a Orquestra de Severino Araújo e apresentação de Murillo Neri e Adalgisa Colombo. Por ocasião do golpe militar de 1964, promoveu vigílias cívicas e chegou a sair do ar em solidariedade ao presidente João Goulart, o que irritou o governo da ditadura. A desestruturação de sua aliada TV Record, a ausência de artistas de projeção e dirigentes competentes, a saída de Boni e Walter Clark e a competição com a recém inaugurada TV Globo deram início à decadência da TV Rio a partir de 1967.

Em 1968, a emissora foi vendida para a família Machado de Carvalho, da Record, e Murilo Leite, da Bandeirantes. Mas a situação não melhorou.

Em 15/05/71, 50% das ações foram vendidas para o grupo Gerdau e para o grupo da Televisão Difusora de Porto Alegre, pertencente à Ordem dos frades Capuchinhos, representado pelos diretores Walmor Bergesch e José Sallimen Jr e o superintendente Nélson Vaccari. A programação passou a ser basicamente de filmes antigos e enlatados, a audiência caiu vertiginosamente. Naquele ano, a emissora mudou-se para a rua Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, onde antes funcionava uma padaria. No lugar da antiga sede, foi construído o Rio Palace Hotel. Em 1972 voltou à Zona Sul, instalando-se em 3 andares do Panorama Palace Hotel, em Ipanema. Em 02/06/74, uma nova direção assumiu o canal 13: Carlos Alberto Scorzelli liderava um grupo formado por Zaide Martins, Davi de Sousa e Cyll Farney. Havia a promessa de compra da TV Rio, mas as cláusulas do contrato não foram cumpridas. Assim, no dia 19/09/74, a emissora já tinha novos proprietários: um grupo liderado pelo jornalista João Gualberto Matos de Sá (Alberto Matos), adquiriu as partes de Paulo Machado de Carvalho (46%), Walmor Bergesch (13,5%) e dos frades de Porto Alegre e Sallimen Jr. (40,5%). Ao transmitir ao vivo a luta de boxe entre Cassius Clay e George Foreman, realizada em Kinshasa (Zaire) em 30/10/74, a TV Rio anunciou que estava lançando uma nova rede, chamada SBC – Sistema Brasileiro de Comunicação.

Em seguida, Jorge Feijó e Joaquim Pires Ferreira, do grupo Vitória-Minas, tornaram-se sócios majoritários. Alberto Matos, formando um novo conselho diretor com Sérgio Roberto e Carlos Eduardo Alvarez, retomaria o comando em 02/06/75, cercado de seguranças! Em 1975, o governo exigiu que o grupo da TV Difusora reassumisse a TV Rio, tendo Ramon Backt Van Buggenhout como superintendente. O controle acionário ficou dividido entre Antônio Augusto Amaral de Carvalho, Sallimen Jr, Walmor Bergersch, Frei Cyrillo Mattiello, Frei Antônio Guizzardi, Frei Osébio Borghetti e Frei José Pagno. A RCA confiscou parte do equipamento por falta de pagamento, e com isso a estação chegou a sair do ar em abril de 1976.

Às vésperas de sua extinção, incluindo os salários atrasados dos 147 funcionários, calculava-se que a dívida da TV Rio passava de Cr$70 milhões. A essa altura, dividiam as ações o grupo Record (46%), a Ordem dos Capuchinhos (40,5%) e o grupo gaúcho de Sallimen Jr (13,5%).

Em fevereiro de 1977, a programação foi novamente interrompida. Produtores e apresentadores do próprio canal 13 reuniram Cr$800 mil e conseguiram voltar ao ar em 02/04/77, mas a tentativa durou poucos dias. Em 05/04/77 a TV Rio teve sua cassação decretada pelo presidente Geisel. Às 22h do dia 11/04/77, o ‘Programa Henrique Lauffer’ encerrou as atividades do canal, quando os transmissores foram lacrados.

Crédito obrigatório: Texto retirado do “Almanaque da TV – 50 Anos de Memória e Informação”, Ricardo Xavier (Ed. Objetiva, 2000), com autorização do autor.

Elmo Francfort

Elmo Francfort

É diretor do Museu da TV, Rádio & Cinema. Já escreveu inúmeros livros sobre a história da televisão brasileira, sua área de especialidade.

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