Em 17 de agosto de 1952, a TV Tupi levava ao ar o primeiro “TV de Vanguarda”, um grande teleteatro com cerca de duas horas de duração e que trazia para a telinha os grandes dramas da dramaturgia universal e nacional. Exibido quinzenalmente, no horário nobre do domingo, o programa se transformou em um grande sucesso.
No cardápio estavam peças de Shakespeare como “Hamlet” ou “Romeu e Julieta”, Dostoievsky, autor de “Crime e Castigo” e Ernest Hemingway, só para falar dos mais conhecidos do grande público.
Os atores, diretores e produtores ensaiavam duas ou três semanas antes de levarem o espetáculo ao vivo, já que o vídeotape era ainda apenas um sonho.
O “TV de Vanguarda” ficou 15 anos no ar e inicialmente tinha um apresentador que introduzia a história para facilitar a compreensão dos telespectadores.
A grande dificuldade era equilibrar a potência das vozes dos atores com os microfones e os enquadramentos das câmeras, já que como os cenários eram raros e a movimentação dos atores em cena era uma grande complicação para toda a equipe técnica, o foco estava sempre nas expressões faciais dos atores.
Ao lado de grandes nomes dos palcos como Cacilda Becker, Sérgio Britto, Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, Ítalo Rossi, Maria Della Costa, Fernando Torres e Fernanda Montenegro, o “TV de Vanguarda” reunia um elenco estelar de atores que marcaram, anos depois, as nossas telenovelas, como Dionísio de Azevedo, Lima Duarte, Laura Cardoso, Flora Geny, Luis Gustavo, Jaime Barcellos, Márcia Real, David Netto, Yara Lins, Henrique Martins, Cleyde Yáconis, José Parisi, Geórgia Gomide, Maria Fernanda, Vida Alves e Tony Ramos, que fez vários papéis de criança ou pré-adolescente.
Com o “TV de Vanguarda”, criou-se também, pela primeira vez na TV, a fórmula de dividir as tarefas entre dois diretores, um artístico e um na direção geral. Foram Walter George Durst e Dionisio de Azevedo os primeiros a ocuparem essas funções na nossa telinha.
O programa ousou em termos de linguagem com muito uso de zoom, pela opção de investir nas expressões faciais, e de algumas panorâmicas (travelling). Ele também inaugurou a trilha sonora na teledramaturgia, já que a música de abertura do programa era o tema do filme “E o Vento Levou…”, um clássico do cinema mundial.
Até hoje, o “TV de Vanguarda” é referência quando se fala no que de melhor se produziu na TV nos anos 50 e foi o programa responsável por dilapidar o talento de grandes nomes da nossa teledramaturgia.