MBRTV - Museu Brasileiro de Rádio e Televisão


MILLÔR FERNANDES


Millôr Fernandes nasceu no bairro do Méier, subúrbio do Rio de Janeiro, em 16 de agosto de 1923. Filho de Francisco e de Maria Viola Fernandes, em verdade seu nome era Milton Fernandes. Ele foi, porém, registrado só no ano seguinte e , como o registro foi feito à mão, houve engano no cartório e ele ficou sendo Millor, e a data de nascimento ficou sendo 27 de maio de 1924. Seu pai era um engenheiro espanhol emigrante e veio a falecer em 1925, aos 36 anos de idade. A mãe Maria Viola criou os quatro filhos atrás de uma máquina de costura. Millor diz, que apesar do aperto da infância, sua família foi feliz, ao lado da avó italiana, dona Concetta de Napole Viola, com dez tios e 42 primos. Em 1935, morreu também sua mãe, com 36 anos e aí a coisa ficou ainda mais difícil.

Millor estudou na Escola Ennes de Souza, de 1931 a 1935, e ele a chamava de ” Universidade do Meyer”. Era uma escola pública. Lá teve a professora Isabel Mendes, que pra ele, lhe ensinou ” todo o necessário para a vida”. Era uma mulatinha magra e devotada, e ensinou tudo o que se deve aprender na escola, ou seja: gostar de estudar.” O resto a gente pode aprender sozinho”.

Em 1934, chegaram ao Brasil as histórias em quadrinhos e Millor se tornou leitor assíduo, especialmente do Flash Gordon,.e foi aí que começou a dar vazão a sua criatividade. Seu tio Antônio Viola o ajudou e Millor teve seu primeiro trabalho publicado no ” O Jornal”, do Rio de Janeiro e ganhou 10 mil reis. Segundo ele: “Começou a ser profissional”.

Quando a mãe morreu, também aos 36 anos, Millor pensou que ele também morreria cedo e escreveu: “Agonia”, que foi publicado na revista: ” A Cigarra”. Ele dizia: ” Tudo me diz que tenho hora e dia pra morrer.”. Mudou-se da casa da avó, e em 1938, foi trabalhar com o Dr. Gonzaga de Magalhães Pinto, fazendo entrega de remédios. Durou pouco no emprego. Depois foi ser contínuo, repaginador, na pequena revista: ” O Cruzeiro”, onde trabalhavam apenas ele e mais dois funcionários Ele nunca imaginou que aquela “revistinha” anos mais tarde iria publicar 750 mil exemplares por vez. Um imenso sucesso. Millor se inscreveu então, com o pseudônimo de Notlim, num concurso de crônicas da revista ” A Cigarra” e ganhou o prêmio. Foi então promovido a chefe do arquivo.

A revista ” A Cigarra”, passou por período difícil e Millor Fernandes foi chamado por Frederico Chateaubriand para preencher páginas que estavam em branco. E ele o fez. Criou o ” Poste Escrito”. Começou ainda a escrever para o ” Diário da Noite”. E em seguida , assumiu a direção de ” A Cigarra”, onde ficou por três anos. Dirigiu também a revista: ” O Guri”. Foi estudar no Liceu de Artes e Ofícios, no centro da cidade, para poder se aprimorar. Foi nessa época que começou a colaborar com Alceu Pena, e escrevia junto com ele: ” As Garotas do Alceu”.

Millor era inteiramente autodidata, mas começou a fazer traduções. Traduziu ” Dragon Seed”, de Pearl S..Buck, com o título: ” A Estirpe do Dragão”, em 1942. Em seguida voltou para a revista ” O Cruzeiro”. E chegou a ter dez seções por semana. Foi quando criou a seção : ” Pif-Paf”, e colocou o pseudônimo de Vão Gogo.No ano seguinte,lançou o livro: “Eva Sem Costela”, sob o pseudônimo de Adão Júnior.

Em 1948, Millor foi aos Estados Unidos, encontrou-se com Walt Disney e Vinícius de Moraes . Foi nessa época que casou-se com Wanda Rubino. Já no Brasil, publicou: ” Tempo e Contratempo”. E fez seu 1º roteiro de cinema: ” Modelo 19″, mas o filme saiu com o título: “O Amanhã Será Melhor”. E ganhou cinco prêmios: ” Governador do Estado de São Paulo”. Em seguida o autor viajou para a Europa e lá ficou quatro meses. Ao voltar publicou sua primeira peça teatral: ” Uma Mulher em Três Atos” .Em 1955, Millor participou do ” Museu da Caricatura”, em Buenos Aires, Argentina e dividiu com o desenhista Saul Steinberg, o 1º prêmio. Foi quando escreveu: ” Do Tamanho de Um Defunto”, que foi depois adaptado por ele próprio para o cinema. Nesse mesmo ano escreveu as peças: ” Bonito Como Um Deus” , ” Um Elefante no Caos” e “Pigmaleoa”.

Em 1956, Millor passou a ilustrar todas as matérias que escrevia para a revista ” O Cruzeiro”Em 1957, fez uma exposição individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. E começou a realizar cenografias, tendo feito: “As Guerras do Alecrim e da Manjerona” Traduziu : ” Good People“. Escreveu o roteiro de ” Marafa”.

Em 1959, Millor Fernandes começou a fazer na TV Itacolomi, de Belo Horizonte, o programa: “Universidade do Méier”, onde ele falava e ao mesmo tempo desenhava. Depois o programa foi transferido para o Rio de Janeiro, com o título: “ Treze Lições de Um Ignorante”, mas foi suspenso pelo presidente Juscelino Kubsticheck, pois era irreverente . Foi a época que Millor teve problemas com a censura, para colocar em cena a peça: ” Um Elefante no Caos”. Mas resolvidos os problemas, a peça foi montada e Millor recebeu o prêmio de ” Melhor Autor”, da Comissão Municipal de Teatro. Em seguida, o autor colaborou em três filmes:“Esse Rio Que Eu Amo”, ” Crônica da Cidade Amada” e ” O Menino e o Vento”.

Em 1961, Millor viajou para o Egito, mas voltou apressadamente, por causa da renúncia do presidente Jânio Quadros. Millor foi então trabalhar no jornal ” Tribuna da Imprensa”, que mais tarde pertenceu a seu irmão Hélio Fernandes, mas ali ficou só sete dias, depois dos quais foi dispensado, pois relatou corrupções do governo. Isso causou rebuliço na redação e vários colegas se demitiram também, entre os quais Paulo Francis. Na revista ” O Cruzeiro”, Millor passou a assinar Millor, e não mais Vão Gogo, como fez por anos.

Em 1963, o autor lançou a peça: ” Flávia, Cabeça, Tronco e Membros”. Depois disso Millor viajou a Portugal, mas foi demitido do jornal no Brasil, pois um artigo seu tinha tido repercussão negativa. De volta ao país, Millor foi trabalhar no ” Correio da Manhã”.De 1964 a 1974, o jornalista ficou escrevendo para o” Diário Popular”, de Lisboa. Também lançou no Brasil, a revista “ Pif-Paf“, que teve duração pequena, por problemas financeiros.

Em 1965, Millor voltou à televisão, fazendo na TV Record, parte do programa: “ Jornal de Vanguarda”,. No mesmo ano, no teatro foi lançada a peça: ” Liberdade Liberdade”, que Millor escreveu em parceria com Flávio Rangel. Em 1968, ao lado de Elizeth Cardoso, Millor atuou no musical de sua autoria: ” Do Fundo do Mar Azul”. E montou, só com autores negros , uma adaptação sua de : “ Memórias de Um Sargento de Milícias” Em 1968, Millor Fernandes passou a escrever para a revista ” Veja”. E em 1969, participou do grupo que fundou: ” O Pasquim”.

Em 1972, Millor escreveu o livro:” Esta é a Verdadeira História do Paraíso” e ” Trinta Anos de Mim Mesmo”. Em 76, lançou a peça: ” É…”, que foi grande sucesso, com Fernanda Montenegro. No ano seguinte, além de fazer grande exposição, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Millor transformou em musical, a famosa peça: ” Deus Lhe Pague”, com músicas de Edu Lobo e Vinícius de Moraes e direção de Bibi Ferreira. Em 1980,foi montada a peça de Millor, ” Os Órfãos de Jânio”

Em 1982, Millor teve muito trabalho. Ele traduziu a opereta: ” Viúva Alegre”, escreveu: ” A Eterna Luta Entre o Homem e a Mulher”, adaptou: ” A Chorus Line”, escreveu e representou: ” O Gesto, A Festa, A Mensagem”, na TV Record de São Paulo. Mas deixou a revista Veja.

Em 1983, a escola de Samba Acadêmicos do Sossego, de Niterói, homenageou Millor Fernandes, mas ele não compareceu.

Em 1984, o escritor lançou: ” Poemas”. Em 85 passou a colaborar com o ” Jornal do Brasil” e lançou: ” Diário da Nova República”. Em 1986,em parceria com Geraldo carneiro, fez o roteiro do filme: ” O Judeu”. Em 1988, lançou: ” A Vaca Foi Pro Brejo”- The Cow Went To The Swamp. Em 1990, nasceu seu neto, filho de Ivan. Em 1992, deixou a revista: ” Isto É”. Em 1994, lançou: ” Millor Definitivo- A Bíblia do Caos”. Escreveu a peça: “Kaos”, e o roteiro: ” Últimos Diálogos”, para um filme de Walter Salles.

Em 1966, Millor passou a trabalhar nos jornais: ” O Dia”,” O Estado de São Paulo”, ” O Correio Brasiliense”. Em 1998, fez, em parceria com Geraldo Carneiro: ” A Mátria”, Em 1999, começou a adaptar: ” Os Três Mosqueteiros”, para musical, mas não terminou o trabalho. Em 2000, Millor escreveu o roteiro de: ” Brasil Outros 500- Uma PoopÓpera”, levado no Teatro Municipal de São Paulo. Passou então a colaborar semanalmente no jornal ” A Folha de São Paulo”, e por lá ficou entre 2000 e 2011, e depois ainda em “O Estado de São Paulo”. E lançou seu site: ” Millor On Line”. Depois, em seguida, deixou a ” Folha” e voltou ao ” Jornal do Brasil”.

Em 2002, Millor publicou: “Crítica da Razão Impura ou o Primado da Ignorância”, em que analisou livros de José Sarney. E ” Dependência e Desenvolvimento na América Latina“, com análise de Fernando Henrique Cardoso . Em 2003, Millor ilustrou o “ Menino” contos de João Uchoa Cavalcanti Netto. Em 2004, lançou o livro: “ Apresentações” e retornou à revista Veja, de onde saiu em 2009.

Como se percebe, após este relato, a obra de Millor Fernandes é intensamente grande. Foram livros de prosa, poesia, peças de teatro, espetáculos musicais…ele é considerado por todos um dos poucos escritores universais que o Brasil já possuiu.

Faleceu em 27 de março de 2012, aos 88 anos, em sua casa, no Rio de Janeiro.

 
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