MBRTV - Museu Brasileiro de Rádio e Televisão


CÁRMEN MARINHO


Depoimento de Carmen Marinho, que nasceu no dia 9 de julho de 1938

Comecei cedo, com 14 anos. Eu cabulava a última aula do Colégio Rio Branco e ia cantar num programa de calouros do Julio Rosemberg, na rádio Tupi Difusora. Estava ensaiando no corredor com o regional e o meu violão. Aparece no meio do corredor um baixinho simpático e disse: “Tem uma voz interessante menina, pequena mas afinada. Depois do programa vá falar comigo, na minha sala, meu nome é Cassiano. É só perguntar aonde fica.” Achei que era papo furado e não fui. No outro sábado, lá estava eu de violão em punho ensaiando no corredor e o tal baixinho metido estava lá! Oi menina, lembra de mim? Lembro sim, respondi. Vem até minha sala depois do programa. Fui perguntando e cheguei numa porta com um vidrinho quadrado no meio. O Cassiano (Gabus Mendes) disse: “Olha menina, ah como é o seu nome? Carmen. Ele foi direto: venha até o estúdio comigo, quero fazer um teste com você. É prá televisão. Pensei: ele é louco.

Você é muito bonita. Fiquei com um pé atrás porque uma moça que cantava comigo me disse: cuidado, todo mundo aqui vai querer te cantar, você é bem bonita. Não esqueci esse conselho e fiquei atenta. Entramos no estúdio (A?) e ele chamou um moço. O Bola 7 (o câmera) vem comigo, quero fazer um teste com essa mocinha. Faz um close do rosto, de frente, de perfil e de corpo inteiro, estou indo lá ver como ela fotografa. Foi para uma salinha cheia de TVs bem pequenininhas. Demorou uma meia hora e ele voltou. Veio com um papel na mão e disse: Leia esse texto aqui. Eu vou lá prá suíte (é como chamava a tal salinha). Voltou logo com um moço, feio coitado, mas com uma voz linda. E disse Carmen esse é o Cesar (Monte Claro) galã de todas as novelas de rádio que eu ouvia com a minha mãe. Aí o Cassiano me disse, sabe menina, você tem uma voz linda, meio rouca e uma ótima dicção. Leia essa parte que diz moço. Ô Cesar, faz um teste aí com ela, vou ouvir lá na suíte. Eu fiquei meio nervosa, afinal era o galã das novelas. Ouvíamos todas: eu, minha mãe, a Da. Irene e minha amada avó Emélia. Na época a melhor era “O Direito de Nascer”. E eu adorava as vocês da Vida Alves que quase sempre a vilã, com aquela voz magnífica, da Laura Cardoso, Yara Lins, Marcia Real, Lolita Rodrigues, Marisa Sanches, a menina Sonia Maria Dorce, o Lima Duarte, José Parisi, Henrique Martins, Cesar Monte Claro, Lia de Aguiar, a mais bela voz e muitos outros. Desculpem não lembrar de todos.

Voltando ao meu teste, o Cassiano entrou no estúdio. Tem uma voz linda Cesar, é um diamante bruto e você vai lapidá-lo e ensinar a ler todos os scripts, desde a mocinha, a vilã, a velha, tudo Cesar. Bom Carmen, agora vamos ver um nome artístico para você. Como é o seu nome completo? Carmen Marinho. Não, filha quero o seu verdadeiro nome, não o que você usa para cantar. Fiquei brava, vê se pode! E disse, olha aqui, meu nome é Carmen, o meu pai é José Antonio Marinho. Entendeu? E já estou indo (eu não sabia que ele era o diretor artístico… e já fui pegando a minha bolsa que estava em cima da câmera e saindo do estúdio. O palhaço começou a rir com uma cara de cínico e me chamou: espera um pouco! Cesar, ela é brava! E ria! Garota malcriada, o seu nome é esse? É seu Cassiano. O Cesar também ria. Bom, disse o Cassiano, pegou, graças a Deus. Vamos até a minha sala: eu, ele e o Cesar Monte Claro, que também era advogado. Sentamos e o Cassiano perguntou: Quantos anos você tem? Quase 15. O que??? É. Olhou para o Cesar e disse: e agora? Eu quero fazer um contrato de 3 meses com ela, como cantora e atriz e ela é menor. Aí o advogado e aor Cesar disse: menina se a sua mãe não te emancipar, só volte aqui com 18 anos. Então, você vai falar com a sua mãe. O contrato será de 3 meses de experiência. Se der certo vai para 2 anos, ok?

Deu certo. Conversei com a D. Irene e ela foi ótima. O irmão do meu padrasto Armando era advogado importante e preparou tudo. Em 15 dias eu era dona dos meus atos e da minha vida.

Voltei à Rádio Tupi e levei o documento para o senhor Cassiano e fiquei sabendo que ele era “só” o diretor artístico da televisão, da rádio, de todos os artistas da emissora. Fiquei besta. Na 2ª. Feira seguinte fiz minha estreia na rádio Tupy às 2:30 da tarde. A novela chamava-se “Sertões em Flor” com apenas o Lima Duarte e a Laura Cardoso, que me ensinaram tudo: como se expressar, respirar, chorar, rir, tudo. Eu não perdia um único olhar que eles me passaram, nada! Eu respirava onde eles mandavam, no microne. Deu tudo certo.

Aí, um dia o Cassiano me chamou e disse: vamos para o estúdio de TV. Você var ser garota propaganda para acostumar com as câmeras. Topa menina? Vamos ver! O que eu faço? É só decorar esse texto aqui. Vê se consegue. Leia bastante. Decorei tudo. Era fácil, só olhar para a câmera, mostrar o produto e falar. Ah, ele me deu o melhor conselho de todos: se esquecer NÃO PARE! Invente e continue! Foi fácil.

Um dia era uma 5ª.feira ele me chamou: olha aqui Cármen decore tudo isso. E me deu um maço de textos. Três maços, ou melhor, três atos e me disse: marque todas as falas onde está escrito Madóvia e decore tudo, vai ao ar domingo na “TV Vanguarda”. A moça que ia fazer está gripada. É a Marly Bueno. Fiquei parada sem dizer nada. Fala menina! Você vai conseguir : você aceita? Aceito e sai. É agora ou nunca Da. Carmen Marinho. É o 1º. Papel da história. Deu tudo certo e foi o primeiro de mais de 300 TVs de Vanguarda em 30 anos.

Um dia um sujeito suagerrimo, feioso e simpático me parou no corredor. Oi Carmen, vou te escalar para o próximo domingo para fazer o TV de Comédia. Era o Geraldo Vietri. Me deu 3 maços de script e bem lacônico disse: decora. Li a história e ri muito. Era engraçada e eu fazia uma burra. Era muito BURRA! Adorei fazer. Me descobri palhaça. Só que quando foi para o ar e era tudo ao vivo, uma hora eu caí na risada e não podia! Foi incontrolável. Todos do elenco começaram a rir e acabou o 2º. Ato logo no começo. Levamos uma bronca enorme e recomeçamos. Deu mais certo que as histórias tristes dos TVs Vanguarda. Eu chorava muito. Os textos eram tristes. Às 6as. Feiras eu fazia um tele-teatro “O contador de histórias” com o Lima Duarte. Era drama. Às 5as. Eu fazia “O lindo topa tudo” com o Walter Stuart. Comédia.
Aos sábado a noite “Sandarino de Bourboni” com o Armandio Silva Filho. Comédia. Isso tudo de 1955 a 1980 quando nossa amada TV Tupy, canal 2, a 1ª. Emissora de TV do Brasil faliu. Todos os funcionários e atores muito tristes pelos corredores, sem acreditar.

Eu parei em 1962 para me casar e voltei em 1966. Tinha 3 filhos: Renato, Geórgia e Gisela.

Fiz muitas novelas e me lembro de algumas: A Fábrica, Éramos seis, Barba Azul, Cavalo Amarelo, O direito dos filhos, Dulcineia vai a guerra, A Viagem, O hospital, Ídolo de pano, Mulheres de areia, Os imigrantes, O Julgamento, Simplesmente Maria, O velho, o menino e o burro, Casal 20, Elas por elas. Fiz um filme: “A moça do quarto 13”. Era americano. Vieram filmar no Brasil e queriam um casal de atores brasileiros. Foram na Tupy, assistiram alguns aores e escolheram eu o Jonny Herbert. Eram os dois papéis menores e insignificantes do filme. Nem ligamos, recebemos em dólar o que valia 6 meses de contrato. Eu fazia uma boleira numa boate. Fiquei com tanta vergonha que não tive coragem de assistir o filme. Até hoje me arrependo.

Trabalhei também na TV Record 7, Excelsior 9, na TV Bandeirantes canal 13, na TV Cultura e na TV Globo.

A título de lembranças, em 1958 fui “Miss Esporte Clube Pinheiros”, a vice mais bela esportiva de todos os clubes de São Paulo, Miss Paulistana, a moça mais bonita de São Paulo e a Princesa dos Músicos porque nunca deixei de cantar. Participava de musicais como “Antártica no mundo dos sons”, aos sábados na TV.

Trabalhei muito, não me arrependo da minha escolha. Criei meus 3 filhos nos estúdios das TVs. Hoje tenho 75 anos. Tenho 5 netos lindos: Giovanna, Renato, Gabriella, Pedro e Anna que amo de paixão.

Quando me chamam, faço comerciais para TV.

 
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