MBRTV - Museu Brasileiro de Rádio e Televisão

A história da TV Manchete



A Manchete, de Adolpho Bloch, disputou com o grupo Abril e a JBC Comunicações (Jornal do Brasil associado a Walter Clark), o canal vago da extinta TV Tupi, obtendo a concessão do governo federal em 1981. Após um investimento de US$50 milhões, a estação emitiu seu 1° sinal em 13/05/83, às 15h27. A inauguração oficial aconteceu em 05/06/83.

O canal 6 do Rio de Janeiro entrava no ar, simultaneamente com as demais emissoras da Rede: o canal 9 de São Paulo e o canal 4 de Belo Horizonte, além da filiada de Porto Alegre, a TV Pampa, canal 4. Às 19h02, um comercial do óleo Lubrax-4 abriu a programação, seguido de um discurso de Adolpho Bloch. Trezentos convidados ocupavam o 10° andar do edifício Bloch, na rua do Russel nº 766, no bairro carioca da Glória, onde o Presidente da República, João Batista de Figueiredo, também fez uma saudação. O cineasta Nélson Pereira dos Santos dirigiu o 1° programa da emissora: “O Mundo Mágico” – 3 horas de quadros musicais entremeados de pequenos depoimentos e breves reportagens sobre o império Bloch. O grupo Blitz abriu o show inaugural, que também contou com Milton Nacimento, Kleiton e Kledir, Paulinho da Viola, Arthur Moreira Lima, Elba Ramalho, Alceu Valença, Dona Ivone Lara, Sérgio Mendes e Watusi. Os bailarinos Fernando Bujones e Ana Botafogo fizeram um número especial e Lucinha Lins e Cláudio Tovar dançaram “Tango”. Em seguida, foi exibido o filme “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” (por muitos anos a TV Manchete utilizaria como vinheta de intervalo as 5 notas musicais do contato extra-terrestre deste filme de Steven Spielberg).

Com o slogan “A televisão do ano 2000”, a TV Manchete estreou com um quadro de mais de 500 funcionários, tendo o veterano Rubens Furtado como diretor geral. Outros slogans viriam a seguir: “Rede Manchete – Televisão de primeira classe” (uma tentativa de elitizar a programação) e “A televisão que o Brasil reconhece” (quando buscou nacionalizar os temas de seus programas). O Teatro Adolpho Bloch passou a funcionar exclusivamente para os programas de tv (só reabriria para peças teatrais em 1997). Na 1ª semana, a emissora inovou com seu telejornal diário de 2 horas de duração, dirigido por Zevi Ghivelder.

O 1° salto significativo de audiência da Manchete foi durante a cobertura exclusiva do carnaval carioca de 1984, quando da inauguração do sambódromo, ocasião em que suplantou a TV Globo. O canal 2 de Fortaleza entrou no ar em 12/02/84 e o canal 6 de Recife integrou a Rede em seguida. Nos primeiros 15 anos de existência da TV Manchete, destacaram-se as entrevistas de Roberto D’ávila no “Conexão Internacional” (1983); o musical “Bar Academia” (1983); o “Jornal da Manchete” (1983), a revista semanal “Programa de Domingo” (1984); a série americana “Acredite Se Quiser” (‘Believe It Or Not’, com direito a segmentos produzidos no Brasil e apresentados por Walter Forster em 1984); a minissérie “Marquesa de Santos” (1984), os documentários “Xingu, a Terra Mágica dos Índios” (1985), “Japão, uma Viagem no Tempo” (1986) e “China, o Império do Centro” (1987); Wilson Cunha com “Cinemania” (1988); Angélica comandando o “Milk Shake” (1988); as reportagens do “Documento Especial” (1989), o desenho animado japonês “Cavaleiros do Zodíaco” (1994) e as novelas “Dona Beija” (1986), “Kananga do Japão” (1989), “Pantanal” (1990) e “Xica da Silva” (1996). No programa infantil “Clube da Criança”, Xuxa e Angélica despontaram como estrelas da tv. A sede paulista da Manchete foi aberta em janeiro de 1990.

Em 09/06/92, com uma dívida de 125 milhões de dólares, a TV foi negociada e 49% de suas ações passaram às mãos do empresário Hamilton Lucas de Oliveira, do grupo IBF (Indústria Brasileira de Formulários), envolvido no esquema PC Farias. No mês seguinte, 670 funcionários foram demitidos. Uma greve tirou a programação do ar em março de 1993: os empregados colocaram no ar um slide denunciando o atraso de salários. O não cumprimento do contrato, que exigia a saldação da dívida, permitiu que Adolpho Bloch retomasse o comando da rede em 23/04/93. Após a morte de Adolpho em 1995, o Grupo Bloch, tendo à frente Pedro Jack Kapeller (Jaquito), mergulhou numa profunda crise.

Em 31/12/97, foi assinado um contrato que dava amplo espaço na programação para a Igreja Renascer. Devendo US$ 500 milhões ao governo e sem pagar os funcionários desde outubro de 1997, a Rede Manchete foi vendida por US$608 milhões ao Grupo TeleTV, de telemarketing, presidido por Amilcare Dallewo Júnior, no dia 09/05/99. A Manchete, “a televisão do ano 2000” encerrava sua era antes que 1999 acabasse, para dar lugar à Rede TV!

Crédito obrigatório: Texto retirado do “Almanaque da TV – 50 Anos de Memória e Informação”, Ricardo Xavier (Ed. Objetiva, 2000), com autorização do autor.

Elmo Francfort

Elmo Francfort

É diretor do Museu da TV, Rádio & Cinema. Já escreveu inúmeros livros sobre a história da televisão brasileira, sua área de especialidade.

 
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